A incrível história de Jimmy Cygler

“Construir uma história bem-sucedida sendo uma árvore ao contrário, com as raízes para cima é muito difícil”. O empresário Jimmy Cygler, 66 anos, sócio e presidente da Proxis, empresa de gestão de relacionamento com clientes, não é modesto ao avaliar sua trajetória. E nem precisa – americano de origem judaica, radicado em Israel, chegou ao Brasil pela segunda vez aos 41 anos com dinheiro suficiente para comer e dormir por 30 dias. Era esse o prazo que tinha para arrumar um emprego e dar rumo à sua vida.

A oportunidade veio na Dynacom – a mesma fabricante do Dynavision, videogame que fez história no mercado brasileiro na década de 90. Ele mal falava português – e também não entendia absolutamente nada de tecnologia. Mas o tino de vendedor sustentou sua posição. Após ampliar a carteira de clientes de 20 para 70 empresas, a Dynasoft, que Cygler rebatizou de Resolve!, seguia com resultados ruins – e os controladores resolveram abrir mão da empresa, divisão coordenada por Cygler.

Decidido a não deixar a empresa morrer, 16 meses após a sua chegada ao Brasil, Cygler comprou a Resolve. Com a rescisão do contrato pagou a primeira parcela – o restante foi pago ao longo de 17 parcelas. Todas as empresas do grupo funcionavam a partir dos sistemas que tinham se tornado propriedade de Cygler com a compra da Resolve!. “Ofereci para eles cinco anos em de manutenção e tranquilidade operacional como forma de pagamento das parcelas vincendas”, conta. “A necessidade é a mãe da inventividade.”

Com a Resolve na mão, Cygler precisou reduzir ao máximo seus custos – era hora de dedicar tempo e dinheiro ao negócio. “Eu precisei enxugar todos os meus gastos pessoais, então me mudei para a empresa. Morava em um colchonete na sede da Resolve, em um sobrado no Sumaré”, diz. Um ano depois, Eyal, seu primogênito, veio de Israel para tocar o negócio com o pai. Mais tarde, Ron, o segundo filho, também desembarcou no Brasil sem previsão de volta. “Aí eram três colchonetes na empresa, trabalhando dia e noite para dar resultado.”

Compra da Proxis

Em 2005, mais estruturados e com um negócio próspero nas mãos, Cygler deu um passo adiante. A compra da Proxis foi a tacada escolhida pelo empresário para subir mais um patamar. A empresa tinha um prejuízo mensal de R$ 500 mil e por isso mesmo, Cygler apostou em uma fusão com as operações da Resolve!.

“A diferença entre um empreendedor louco e um ousado é apenas o resultado”, define. “Quando eu comprei a Proxis falavam que eu era maluco, hoje eu sou avaliado como um empresário ousado.” Em 2014 a Proxis faturou R$ 23 milhões e figurou mais uma vez entre as pequenas e médias empresas que mais crescem no país, segundo levantamento da consultoria Deloitte publicado pela revista PME/Exame.

O empreendedorismo não era exatamente uma novidade para Cygler. Quando morava em Israel, atuava no comércio, em uma cidade de 6 mil habitantes – a população inteira caberia no Copam, prédio no centro da cidade. Tinha uma loja de brindes, um ateliê de molduras, uma loja de suprimentos para floriculturas e um estabelecimento na área de fotografia. “Se tem uma coisa que eu sei fazer é vender. Acho uma atividade fascinante”, diz. “Há mais de 5 mil e 700 anos meus antecessores vem trabalhando com vendas, deve estar no sangue.”

Hoje, Cygler entende ter cometido um erro estratégico ao decidir ser único dono de todos os seus estabelecimentos comerciais em Israel. Duas vezes por ano, todos os homens são obrigados a servir o exército durante 20 dias, o que provoca oscilações brutais no desenvolvimento dos negócios. “O faturamento das minhas empresas parecia um eletrocardiograma”, conta. “Eu botava tudo nos eixos, então chegava a época do Miluim [o serviço militar temporário] e o faturamento voltava a cair. Eu tinha funcionários, mas nunca é a mesma quando o dono está fora.”

A origem desse ímpeto empreendedor hoje é clara, mas nunca foi racional para o executivo. Seu pai, Izrael Goldberg, nunca foi empregado – mas também nunca fez questão de transmitir esse pensamento aos filhos. “Hoje, observando minha história, sei que sou um péssimo empregado do ponto de vista hierárquico”, avalia.

Desde o começo de sua vida adulta, optou por desenhar o próprio caminho. Ainda na adolescência, Cygler vivia em um colégio interno agrícola, em Jerusalém. Nos terraços que circundavam a cidade, notou a existência de oliveiras centenárias. “O Estado de Israel me provia, mas eu precisava ter algum dinheirinho para ir ao cinema, chamar alguma moça para sair”, lembra. “Então fechei um negócio com uma fabricante de azeites de oliva e convenci alguns colegas da escola a juntar sacos de azeitonas para vendermos à fábrica.”
Aos 15 anos, Cygler já era empreendedor e líder de um time.

Quando chegou ao Brasil, a América Latina não era novidade. Irmão mais velho de uma família de cinco filhos – quatro deles nascidos no Brasil -, Jimmy Cygler viveu no sul do país até os 13 anos, onde foi educado em colégio de freiras.Foi quando ele recebeu a visita de um jovem peruano beirando os 20 anos, Lucho. O rapaz dizia ser seu irmão e revelava a história de sua verdadeira mãe, não aquela que o criava. Jimmy era fruto do casamento do pai com uma perturbada judia norte-americana, Rebeca Kaufmann.

Após a interdição da esposa, o pai de Cygler migrou com o filho para o Brasil. Antes disso, decidiu convocar os filhos do casamento anterior, com uma peruana, para uma visita. Naquele momento, Jimmy encontrava, ainda bebê, sua irmã peruana Alina, seis anos mais velha.

No leito de morte, o pai confirmou a história contada pelo jovem Lucho. “Meus alicerces foram todos derrubados naquele minuto”, conta. Antes de morrer, seu pai preparou uma viagem para Jimmy, só de ida, para Israel. Com US$ 7 no bolso, foi o Estado de Israel que propiciou moradia, estudos e até o tratamento psicológico para recompor os 13 anos de abuso.  “Reconstruí minha humanidade e isso ninguém mais me tira”.

Aos 20 se casou “com a primeira mulher que deu bola” – na noite de núpcias foi gerado o primeiro filho, mas dois meses depois um aborto natural interrompeu a gravidez. O primeiro filho, Eyal, de 46 anos, nasceu 13 meses depois da noite de núpcias, trabalhou com o pai por 25 anos e hoje dirige a Kêssem, empresa de consultoria na área de tecnologia. O segundo filho, Ron, é sócio de Cygler na Proxis e CEO da MakeIT Simple, empresa de tecnologia para negócios.

O primeiro casamento acabou quando uma americana de passeio em Israel encantou o coração de Cygler. Após uma tarde inteira de conversa, o empresário estava convencido de sua paixão. Após a benção dos filhos, foi atrás da mulher que se tornou a sua segunda esposa. Mas três meses depois do nascimento de Shira, filha do casal, ela foi embora.

A essa altura, Cygler já estava cansado da tensão do país. Queria ir embora de Israel. “É um lugar fantástico, mas é muito barulho, guerra constante. Os homens servem o exército até os 55 anos”, diz.

Das quatro guerras que lutou no exército de Israel, Cygler leva quase nada. “Eu nunca gostei das guerras, é algo que não faz sentido”, diz. “Apesar de ter uma justifica existencial para elas acontecerem, esse foi um dos motivos que me fez abandonar o país e encerrar o capítulo Israel na minha vida.”
No Brasil, Cygler viveu mais um casamento, que gerou mais frutos – Israel, de 21 anos, e Gabriel, de 16 anos, recém recuperado de um linfoma. São os dois caçulas de uma prole de seis filhos, frutos de três casamentos em três países diferentes.

Reencontros

O mundo dos negócios também proporcionou a Cygler encontros memoráveis. Em 2005, durante um evento na China, teve a oportunidade de conhecer um executivo peruano que colocou mais uma peça no quebra-cabeça familiar do empresário. Ao contar sua história, Cygler convenceu o executivo a ajudá-lo a encontrar os irmãos peruanos. Depois de inúmeros e-mails distribuídos e encaminhados, surge um número de telefone, de uma certa senhora em Lima, com histórias congruentes à de Jimmy com relação ao pai.

“Eu peguei aquele número e liguei. Uma senhora atendeu o telefone e eu disse: ‘Gostaria de falar com a senhora Alina, meu nome é Jimmy Cygler, sou do Brasil’”, narra. “Ela me respondeu no mesmo momento: ‘Meu querido irmãozinho Jimmy, te procurei por toda a vida’.” Pegou um voo e foi ao Peru, viver o primeiro reencontro com sua irmã. Lucho já estava morto desde 1980, vítima de uma cirrose hepática. Cygler era o único parente vivo de Alina, que morreu em 2014, após lutar contra um câncer.

A epopeia pessoal de Jimmy Cygler ainda está sendo escrita – literalmente. Ele pretende lançar em breve um livro com seus relatos. Orly, filha do primeiro casamento, certamente tem participação fundamental no capítulo de reencontros recentes.

Por meio de um mapeamento e cruzamento de dados genéticos feito por uma empresa americana chamada 23andme, Orly descobriu, na Flórida, nos Estados Unidos, um parente da família. No início, ele pensava ser um primo, atraído pela oportunidade de conhecer suas raízes, Cygler também fez o seu mapeamento. Paul Leventhal, na verdade, era seu irmão – filho de um relacionamento informal de sua mãe.

No começo deste ano, Cygler foi ao encontro de seu irmão nos Estados Unidos. Lá descobriu que havia ainda mais um irmão na história, Jay Rosenthal, morto em junho de 2014. No relato ao blog da empresa, o empresário diz ter visto nos olhos do irmão o peso do sofrimento – Leventhal cresceu em um orfanato, abandonado por toda a família. “Ambos sobrevivemos.”

Fonte: Diário do Comércio

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